terça-feira, 18 de julho de 2017

MORALISTAS VULGARES


Os moralistas vulgares queixam-se de que o homem apenas é movido pelo interesse pessoal; prouvera que assim fosse! O interesse é um princípio de acção egoísta, mas limitado, razoável, do qual não podem advir males ilimitados. A lei de todas as actividades que dominam a existência social é, pelo contrário, e excepção feita às sociedades primitivas, que cada um nela sacrifica a vida humana, sua e alheia, por coisas que apenas constituem meios para viver melhor. Tal sacrifício reveste diversas formas, mas tudo se resume na questão do poder. O poder constitui, por definição, apenas um meio; ou melhor, possuir uma forma de poder consiste simplesmente em possuir meios de acção que ultrapassam a força restrita de que um indivíduo isolado pode dispor. A busca do poder, porém, exactamente porque lhe é impossível atingir o seu objectivo, exclui toda a consideração de finalidade e acaba por, numa inevitável alienação, ocupar o lugar de todos os fins.


Simone Weil, in Reflexões Sobre as Causas da Liberdade e da Opressão Social, trad. Maria de Fátima Sedas Nunes, Antígona, Junho de 2017, pp. 51-52.

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